Amanda Barbosa Veiga dos Santos.
Referências
Capoeira
Aprender a capoeira não é aprender a brigar
É aprender a luta de um povo
Que se expressou em movimentos físicos
Pela necessidade de liberdade
A liberdade de ser gente!
Aprender a capoeira é, acima de tudo, lutar
Pela
liberdade do corpo e do espírito.
Paulo Cunha, 1983.
No século XVI, o Brasil era colônia de
Portugal e muitos africanos foram trazidos para trabalhar, principalmente nos
grandes engenhos do nordeste brasileiro. A maior parte da população africana
era mantida como escravos, apesar de também existirem africanos livres. As
manifestações culturais africanas foram dificultadas no Brasil, pois os
africanos eram separados da família, divididos em grupos de dialetos distintos
para dificultar a comunicação e organização dos mesmos. Segundo Almir das
Areias:
Porém, os
negros nunca deixaram de lutar, e reagirem das mais diversas formas: desde a
fuga incerta e o suicídio, até a morte do seu opressor imediato mesmo sabendo
da consequência fatal desse ato – pois, ao contrário do que muitos pensam, os
escravos nuncam aceitaram passivamente a escravidão, o que lhes faltava era
condições propícias para a luta em massa e organizada. (AREIAS, 1989, p.12, 13)
Mesmo com todas as dificuldades,
os africanos desenvolveram formas de proteção contra a violência, lembrando que
os mesmos eram alvos de castigos, práticas violentas e repressões, realizadas
pelos colonizadores brasileiros, uma destas formas de defesas foi a capoeira. A capoeira, então, nasceu com a necessidade de instrumento de
autodefesa. Os africanos escravizados eram proibidos de práticar lutas então
através dos movimentos de danças, ritmos, cantos e adaptação de luta surgiu uma
arte marcial disfaçada de dança. De acordo, Mestre Pastinha: “Os negros africanos, no Brasil colônia, eram escravos e nessa condição
tão desumana não lhes era permitido o uso de qualquer arma ou prática de meios
de defesa pessoal que viessem pôr em risco a segurança de seus senhores
(PASTINHA, 1988, p.28)”.
Considerada um dos instrumentos
mais importantes da resistência física e cultural dos escravos brasileiros, a
capoeira muitas vezes era praticada em campos com pequenos arbustos denominados
capoeirão ou capoeira, assim o lugar que era práticado também serviu para
denominar a luta. Rego defende o
significado da palavra
capoeira como sendo: “atualmente são
quase unânimes os tupinólogos em aceitarem o étimo caá, mato, floresta virgem, mais puêra, pretérito nominal que quer dizer o que foi e não existe
mais”(REGO, 1968, p.21). O berimbau era utilizado na capoeira para dar ritmo e servia também para
comunicar a chegada de um feitor, ou seja, transformar a luta em dança. As principais funções da capoeira eram o alívio do estresse do
trabalho, instrumento de autodefesa, manutenção da saúde física e da cultura. Para
Capoeira: “Temos agora uma ideia de como nasceu à capoeira:
mistura de diversas lutas, danças, rituais e instrumentos musicais vindos de
várias partes da África. Mistura realizada em solo brasileiro, durante o regime
de escravidão, provavelmente em Salvador e no Recôncavo Baiano durante o século
XIX”. (CAPOEIRA, 1998, p.34)
Com a Abolição da Escravatura em
1888, e a libertação dos escravos, surgiu um grande problema social: o país não
tinha o interesse e nem como empregar toda mão-de-obra oriunda do cativeiro.
Dessa forma, sem condições de trabalho, de sobrevivêcia, vagando pelas estradas
e grandes centros, os negros se encontravam à margem da sociedade. De acordo Santos e Barros, após a abolição, “muitos escravos foram largados nas ruas
sem emprego e a capoeira foi um dos meios utilizados para a sobrevivência deles
(BARROS & SANTOS, 2013, p.1)”. Areias
salienta que:
Residindo nos morros e
periferias, circulando normalmente nos locais de maior movimento da cidade,
como portos, estações ferroviárias, mercados e feiras, os negros mal conseguiam
um trabalho que lhes garantisse a sobrevivência. E com os berimbaus, pandeiros
e reco-recos, enquanto não apareciam afazeres, os negros formavam suas rodas e
vadiavam freneticamente no jogo da capoeira. A cena atraía os turistas e
transeuntes dos quais era conseguido algum dinheiro trocado para leite, a
farinha e o sagrado gole de cachaça. (AREIAS, 1989 p.29)
A capoeira em 1890 foi
considerada “fora da lei” pelo antigo Código Penal da República, no capítulo
que tratava dos vadios e capoeiras. O artigo 402 dizia sobre a penalidade de
dois a seis meses de prisão para quem se atravesse a praticar a capoeira. Segundo Rego :
Fazer nas ruas e praças públicas exercício de
agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação capoeiragem: andar em
carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal,
promovendo tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou
incutindo temor de algum mal. (REGO, 1968, p.292)
Na década de 1930, Getúlio
Vargas tomou o poder, derrubando o presidente Washington Luís. O mestre Bimba
conceituado capoeirista brasileiro apresentou a capoeira para o presidente,
assim com o contexto político favoravél a prática passou a ser legal. De acordo
Areias:
Em 1932, nesse contexto político, Getúlio Vargas libera uma série de
manifestações populares e dentro estas a capoeira. Contudo, o ato do grande estadista
nada teve de “bonzinho” ou gratuito; foi antes de tudo um ato político, uma
forma estudada de liberar as “válvulas de escape” da população marginalizada,
angariando dela a sua simpatia, ao mesmo tempo que é uma forma de exercer um controle
sobre estas manifestações e sobre os atos dos seus praticantes, eliminando
assim, a incoveniência da desordem e determinando regras e normas para a sua
prática. (AREIAS, 1989, p.63)
Mello (1996) salienta que
a primeira academia a ensinar a capoeira formalmente foi estabelecida por
Manoel dos Reis Machado em 1932, também conhecido como Mestre Bimba importante
personagem na história da capoeira.
Atividades
1)
O que
significa a palavra capoeira?
2)
Como a
capoeira chegou ao Brasil?
3)
Como a
capoeira era utilizada?
4)
Qual a
importância da capoeira?
5)
Quando e por
que a capoeira foi proibida?
6)
Qual
instrumento era utilizado para avisar que o feitor estava chegando?
7)
Qual o nome
do mestre que fundou a primeira academia de capoeira?
8)
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Referências
AREIAS, Almir das. O que é
capoeira. 3 ed São Paulo: Brasiliense, 1983. 113 p. (Primeiros passos; 96).
CAPOEIRA, Nestor. Capoeira: pequeno manual
do jogador. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 1998.
MELLO, André da Silva. Esse nego é o diabo, ele é capoeira ou da
motricidade brasileira. Revista Discorpo, São Paulo, n. 6, p. 29-39,
1996.
PASTINHA, Mestre. Capoeira angola. Salvador:
Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1988. 78p.
REGO, Waldeloir. Capoeira angola: ensaio
sócio etnográfico. Salvador: Itapuã, 1968.
SANTOS, Leonardo José Mataruna dos; BARROS, Luciana
de Oliveira. O histórico da capoeira: um curto passeio da origem aos tempos
modernos. Revista digital, Buenos Aires, ano 4, n. 15, ago. 1999.
Disponível em: <http://www.efdeportes.com/>. Acesso em: 25 jul. 2013.
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